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Triste traço cultural da sociedade brasileira, o ato de incendiar ônibus coletivos traz grandes prejuízos a sistemas em todo o Brasil. Estudo nacional aponta números que preocupam gestores públicos e empresas operadoras, inclusive aqui na Grande Vitrória

Os números são alarmantes. Desde 1987, quando foi registrado o primeiro incêndio em ônibus no Brasil, até dezembro de 2024, 4.898 ônibus foram incendiados no país. Isso significa um prejuízo de R$ 3 bilhões em 37 anos, considerando os custos para reposição dos veículos, de passageiros não transportados e as horas de produtividade perdidas.

Há, ainda, os impactos sociais: no mesmo período, 1,4 milhão de passageiros deixaram de utilizar o transporte coletivo devido aos incêndios em ônibus, e 91,5 milhões de quilômetros não foram percorridos, causando prejuízos à maior parte da população, que é quem, de fato, utiliza o ônibus.

Os dados fazem parte do último estudo “Impacto dos ônibus incendiados (1987-2024) – Cenário Nacional”, divulgado em janeiro deste ano pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU). Desde 1987, a cada dois meses, a entidade publica um levantamento atualizado sobre os impactos desse tipo de incidente no Brasil.

Mas o que esses números realmente significam para a sociedade? Como a população, especialmente a da Grande Vitória, é afetada pela violência contra o transporte público?

Impactos na sociedade

Para muitos brasileiros, o transporte público é uma necessidade diária. Ele conecta as pessoas aos seus empregos, escolas e hospitais. Mas, o aumento dos incêndios de ônibus, além de gerar prejuízos financeiros significativos, resulta em graves consequências para o cotidiano da população.

De acordo com o estudo, quando um ônibus é incendiado, não apenas o custo de reposição do veículo entra em jogo. Existe também o impacto direto na mobilidade das pessoas. Um ônibus a menos nas ruas significa menos opções de transporte para a população, o que, muitas vezes, resulta em superlotação, aumento do tempo de espera e transtornos.

E quando um sistema de transporte público é comprometido, há um efeito cascata que afeta o comércio local, os serviços essenciais e até a saúde pública.

Além disso, há a questão da segurança. O incêndio de ônibus é uma ação deliberada que expõe os passageiros ao risco de danos físicos e psicológicos, resultando em mortes e feridos. Com isso, aumenta a sensação de insegurança e o medo entre usuários e colaboradores do transporte público.

Só para se ter uma ideia da dimensão do problema, somente em 2024, 69 ônibus foram incendiados no Brasil, isto é, 1 coletivo a cada 5 dias. O balanço dos ataques: 27 vítimas fatais, 80 feridos graves e um prejuízo de R$ 41,7 milhões em um ano. Ao todo, 5.209 ônibus do tipo Padron poderiam ser adquiridos com os recursos comprometidos com os ônibus incendiados.

Fenômeno também afeta a Grande Vitória

Como se vê, o prejuízo financeiro causado é, sem dúvida, significativo para as empresas de transporte, mas, ainda mais importante, são os danos à qualidade de vida dos cidadãos.

Na Região Metropolitana, a situação não é diferente. A Grande Vitória tem enfrentado uma onda de ataques ao transporte público, com depredações e incêndios de ônibus em diversos bairros. E, assim como no restante do país, essa situação não é de agora.

Em pouco mais de 20 anos (entre 2004 e 2025), 94 ônibus do Sistema Transcol foram incendiados por criminosos. O caso mais recente foi no dia 20 de janeiro deste ano. Em todas as ocorrências, os ônibus ficaram completamente destruídos.

Por pouco, outro coletivo também quase ficou em chamas, durante um protesto motivado pelo desaparecimento de um morador, realizado no último dia 25 de fevereiro, no bairro 23 de Maio, em Vila Velha. Na ocasião, dois ônibus foram apedrejados, sendo que, em um deles, os policiais encontraram um dispositivo incendiário artesanal, conhecido como coquetel molotov. A motorista sofreu um ferimento leve na mão ao sair do veículo antes da tentativa de incêndio.

“Se formos contabilizar os prejuízos financeiros com os incêndios, temos um impacto de R$ 75,2 milhões em pouco mais de 20 anos (entre 2004 e 2025), levando em consideração o custo de reposição desses veículos em valores atuais, já que um coletivo novo custa em média R$ 800 mil, enquanto os microônibus, em torno de R$ 650 mil. Vale destacar que um ônibus novo demora, em média, três meses para ser fabricado, além do período dos trâmites legais para que ele entre em circulação”, explica o diretor executivo do GVBus, Elias Baltazar.

Os motivos por trás dos incêndios

A NTU, em parceria com a Confederação Nacional do Transporte – CNT, também realizou um estudo que busca entender os motivos pelos quais tantos ônibus são incendiados no Brasil. A pesquisa, que pode ser acessada aqui, aponta para uma série de fatores, incluindo a falta de segurança, o desrespeito às leis e a sensação de impunidade.

“Os incêndios a veículos de transporte público são deixados de lado, na prática, pela justiça. Então, na visão de muita gente envolvida, parece ser o crime perfeito: chama a atenção da mídia para dado problema ou insatisfação de um grupo de pessoas e sequer recebe a atenção necessária da polícia, como se fosse um direito de manifestação legítimo”, destaca o vice-presidente da CNT e presidente do Conselho da NTU, Eurico Divon Galhardi, no estudo.

De acordo com a pesquisa, a violência contra os ônibus tem sido alimentada por uma combinação de fatores sociais e econômicos, incluindo a marginalização de algumas áreas urbanas, onde o transporte público é visto como um alvo fácil. A falta de políticas públicas eficazes para combater a violência também é um fator crítico. A maioria dos casos, no entanto, está ligada ao crime organizado.

“São executados a partir de ordens enviadas de dentro de presídios, em retaliação a alguma decisão tomada tanto nas prisões quanto nas comunidades de origem dos criminosos presos, e que acaba inibindo, de alguma forma, suas ações”, acrescenta Galhardi.

O estudo sugere, ainda, que os incêndios intencionais de ônibus são um tipo de violência muito peculiar no Brasil, que não faz parte da realidade dos demais países. Trata-se de um fenômeno que começou como forma de chamar a atenção da opinião pública e de autoridades para problemas específicos, mas que acabou virando um problema social. O objetivo dos ataques, na realidade, é atingir o poder público.

“No Brasil, a população acredita que os ônibus urbanos são veículos do Estado, representações do poder público, embora não sejam. É compreensível que haja esse entendimento, já que o transporte público é um serviço essencial e um direito social. Só que, no Brasil, os ônibus são operados por e pertencem a empresas privadas, que custeiam a aquisição e a manutenção de cada veículo. Mas, para os cidadãos em geral, isso não importa muito: os ônibus, de alguma maneira, simbolizam o governo”, pontua Galhardi.

Possíveis soluções

Em uma tentativa de apontar soluções, Galhardi descarta que uma legislação mais rígida possa resolver a situação no longo prazo, mas, por outro lado, afirma que essa é uma medida que pode ajudar a mitigar, em parte, os efeitos do problema.

“A legislação, sabemos, é pouco eficiente. É muito difícil que alguém que tenha colocado ou tentado colocar fogo em um ônibus urbano seja preso ou fique detido por mais do que alguns meses. Em geral, é solta imediatamente, sobretudo porque o maior número de praticantes desse delito é de menores de idade aliciados pelo crime organizado. Existem mudanças possíveis no caminho, no sentido de tornar as punições mais duras. Mas perante os desafios da justiça no Brasil, esse tema fica distante de ser uma prioridade – embora devesse ser”, afirma.

Há um movimento de empresários que lutam, há alguns anos, para enquadrar esse tipo de prática na lei de crimes de terrorismo. Também existe no Congresso Nacional um projeto de lei que busca aumentar a penalização para os casos de incêndios intencionais em ônibus urbanos.

Outras medidas propostas no estudo vão desde formas de comunicação de motoristas e cobradores com as empresas prestadoras de serviço, em caso de ameaça, até a criação de protocolos entre empresários e a Secretaria de Segurança local para balizar o atendimento à população nos momentos mais críticos dos ataques.

Triste traço cultural da sociedade brasileira, o ato de incendiar ônibus coletivos traz grandes prejuízos a sistemas em todo o Brasil. Estudo nacional aponta números que preocupam gestores públicos e empresas operadoras, inclusive aqui na Grande Vitrória

Ações realizadas na Grande Vitória

Para auxiliar a polícia na prevenção de crimes envolvendo coletivos, as empresas operadoras do Sistema Transcol investem em equipamentos e atuam em parceria com a própria polícia. Toda a frota do Sistema Transcol é equipada com câmeras de videomonitoramento e, em caso de ocorrência criminal, as imagens são disponibilizadas aos policiais para ajudar nas investigações.

Os motoristas também são orientados a acionar, imediatamente, a empresa operadora e a polícia. E sempre que um crime como este é registrado, a Companhia Estadual de Transportes Coletivos de Passageiros do Estado do Espírito Santo (Ceturb-ES) altera a circulação dos ônibus nas regiões afetadas, para permitir que os veículos utilizem rotas alternativas, a fim de garantir a segurança de passageiros e funcionários do transporte até que a situação de conflito seja resolvida ou acalmada.

Na Região Metropolitana da Grande Vitória, as autoridades locais e as empresas de transporte público têm trabalhado para reduzir esses incidentes, mas a violência continua a ser um desafio a ser superado, assim como nas demais cidades brasileiras.

“A Ceturb-ES está profundamente preocupada com os recentes ataques ao transporte público na Grande Vitória. Estamos trabalhando em estreita colaboração com as autoridades policiais e as empresas de ônibus para garantir a segurança dos passageiros e funcionários. Além disso, estamos buscando soluções de longo prazo para prevenir futuros incidentes, como o aumento do videomonitoramento e a intensificação do diálogo com as comunidades”, ressalta o diretor-presidente da Ceturb-ES, Marcelo Campos Antunes.

Comunicação GVBus

Autor Comunicação GVBus

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